quinta-feira, 12 de junho de 2008

Dia dos namorados

E no dia dos namorados, que deve ser todos os dias, mas este, que seja cheio de caprichos, de surpresas e não um trocar desonesto, ou um sorriso de lado.
Que sejam os dias dos namorados felizes, apaixonados, que sejam quentes e ternos, verdadeiros, mesmo solitários. Namora a ti mesmo e serás feliz sempre, certo?

E com menos glamour e de domínio público, para os solteiros:
"Até pé na bunda te empurra pra frente"

Feliz dia dos namorados! Aos namorandos e aos apaixonados por si mesmos, sem vaidade.

Para acalentar ainda esse dia, um poema da maestrina:

Hilda Hilst

Prelúdios-intensos para os desmemoriados do amor

I
Toma-me. A tua boca de linho sobre a minha boca Austera. Toma-me AGORA, ANTES Antes que a carnadura se desfaça em sangue, antes Da morte, amor, da minha morte, toma-me Crava a tua mão, respira meu sopro, deglute Em cadência minha escura agonia.
Tempo do corpo este tempo, da fome Do de dentro. Corpo se conhecendo, lento, Um sol de diamante alimentando o ventre, O leite da tua carne, a minha Fugidia. E sobre nós este tempo futuro urdindo Urdindo a grande teia. Sobre nós a vida A vida se derramando. Cíclica. Escorrendo.

Te descobres vivo sob um jogo novo. Te ordenas. E eu deliquescida: amor, amor, Antes do muro, antes da terra, devo Devo gritar a minha palavra, uma encantadaIlharga Na cálida textura de um rochedo. Devo gritar Digo para mim mesma. Mas ao teu lado me estendo Imensa. De púrpura. De prata. De delicadeza.

II
Tateio. A fronte. O braço. O ombro. O fundo sortilégio da omoplata.Matéria-menina a tua fronte e eu Madurez, ausência nos teus claros Guardados.

Ai, ai de mim. Enquanto caminhas Em lúcida altivez, eu já sou o passado. Esta fronte que é minha, prodigiosa De núpcias e caminho É tão diversa da tua fronte descuidada.
Tateio. E a um só tempo vivo E vou morrendo. Entre terra e água Meu existir anfíbio. Passeia Sobre mim, amor, e colhe o que me resta:Noturno girassol. Rama secreta. (...)

[Júbilo memória noviciado da paixão (1974)][in Poesia: 1959-1979/ Hilda hilst. - São Paulo: Quíron; (Brasília): INL, 1980.]

Um comentário:

Anônimo disse...
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