terça-feira, 19 de outubro de 2010

3 poemas

Rolando

Minha pele no seu pelo
Seu pelo no meu cabelo
Meu cabelo no seu joelho
Seu joelho no meu quadril
Meu quadril no seu
Cê em mim
Mim no cê
Querer sem fim


Interior

Esparrama o feijão
Conta cinco grãos
Guarda num saquinho de flanela
Guarda na gaveta
Fe-i-jão
Que nunca mais brotará
Pra guardar a memória
O cheiro
O tempo
Daquela casa de fazenda
De janelas amplas
A luz poente
A poeirinha no feixe de luz
O cheiro amadeirado
O final de abril
Que não volta mais


Regato

Regato
Pedaço de vida
Escorrendo num vale pequeno
Molhando as pedras,
Brotando a relva
O musgo
As serpentes d´água levam
Peixinhos, fluidos, vida microscóspica
Leva as bolhas
Leva os gravetos boiando
As aranhas, ariranhas
Leva o frio, a fresca, leva a bruma baixa,
Leva os vivos e os mortos rio abaixo
E deságua, acaba,
Onde outra vida começa
Professa o rio sua reza
O murmúrio d´água
Acalma
Leva névoa
Leva terra
Lava’lma

Nenhum comentário: